Os 7 maiores desafios da COP30 em Belém

 11/01/2025


De Gustavo Pinheiro

A COP30 marca os 10 anos do Acordo de Paris e é o ponto de partida para a década de 2025-2035, decisiva para sua implementação. O Brasil sinalizou que esta COP será justamente a “COP da implementação”, com o lema “Missão 1.5°C”, destacando a responsabilidade de viabilizar meios concretos para manter o aquecimento global dentro de 1,5°C até o fim do século.


1. Atualização das NDCs

O primeiro desafio ocorre antes mesmo da COP30. Os países devem submeter a segunda geração de NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que precisam refletir ambição suficiente para alinhar as metas globais ao intervalo de 1,5°C a 2°C.

"Até agora, apenas seis países submeteram novas NDCs, incluindo o Brasil, mas todas são insuficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C."

A maioria dos países sequer cumpriu suas promessas iniciais, mantendo o mundo numa trajetória de 2,5°C a 2,9°C até 2100, cenário catastrófico para a humanidade. Reverter esse curso exige que a COP30 seja um marco para compromissos muito mais ambiciosos.


2. Financiamento climático

O segundo desafio é ampliar os compromissos financeiros das economias avançadas para os países em desenvolvimento. A meta de US$ 300 bilhões anuais, definida na COP29, é apenas um passo inicial rumo aos US$ 1,3 trilhões anuais necessários para a transição e adaptação global.

O Brasil, como anfitrião, terá que liderar uma agenda crível para mobilizar esses recursos adicionais no âmbito da rota de Baku à Belém para mobilização de US$1,3 trilhões estabelecida na decisão da COP29 no Azerbaijão. Sem esse financiamento, especialmente para os países mais pobres e vulneráveis, será impossível alcançar uma transição justa e sustentável e garantir o nível necessário de adaptação à mudança do clima.


3. Da negociação à implementação

"A estrutura atual da Convenção precisa evoluir. Desde sua criação, a prioridade tem sido a negociação de compromissos, mas agora é necessário atualizá-la para incluir foco na implementação."

A presidência brasileira deve trabalhar em parceira com o secretariado da Convenção e com os outros países membros para estabelecer mecanismos robustos que garantam a entrega dos compomissos, o monitoramento, a avaliação e revisão periódica dos compromissos, promovendo um ciclo contínuo de aumento de ambição e entrega efetiva.


4. Ambiente geopolítico desafiador

A COP30 ocorre em um contexto de crescente polarização global. A reeleição de Donald Trump nos EUA coloca em risco o avanço do regime climático, ameaçado também por outros atores, como a Arábia Saudita, que frequentemente utilizam táticas para desacelerar o progresso. Outros países-chave como França, Alemanha e Canadá podem ver mudanças de governo que também podem colocá-los em rotas de negação da crise climática ou redução da ambição.

Os conflitos armados em curso são outro fator desestabilizador que torna o ambiente geopolítico bastante desafiador. O Brasil precisará proteger o regime climático contra esses riscos e liderar com diplomacia estratégica para manter a cooperação multilateral. Será muito importante ampliar a articulação pré-COP ao longo de todo o ano de 2025 de modo a garantir que a agenda esteja bem amarrada antes da COP30. Não há espaço para improvisação em Belém. Deve-se seguir o modelo mineiro de política, onde o acordo é construído ao longo de um período de articulações discretas e no período de negociação formal (a COP) já se tem tudo alinhado para que se colha os frutos desta construção que deve ser costurada previamente.


5. Convergência entre as Convenções do Rio, integração de clima, biodiversidade e combate à desertificação

A Amazônia será o palco da COP30, e isso traz um desafio e uma oportunidade. É essencial que a conferência fortaleça o elo entre as agendas climática, de biodiversidade e combate à desertificação. Devem ser ampliadas as ações voltadas para alavancar o combate ao desmatamento e à desertificação, e o incentivo à bioeconomia e soluções baseadas na natureza. A proteção de ecossistemas deve ganhar maior centralidade como pilare-chave para mitigação e adaptação às mudanças climáticas.


6. Mobilização de atores não estatais, transição energética e o abandono dos combustíveis fósseis

A transição climática não será possível sem a participação de todos os setores da sociedade. A presidência brasileira precisará engajar empresas, cidades e comunidades, criando um ambiente colaborativo para que os compromissos da COP30 sejam amplamente implementados. O papel do setor financeiro deve ter lugar de destaque, cobrando-se os compromissos assumidos desde a COP26 em Glasgow, na Escócia, quando os maiores proprietários e gestores de ativos se uniram à Aliança Financeira de Glasgow por Emissões Líquidas Zero (GFANZ). Redirecionar o financiamento global do setor de combustíveis fósseis para acelerar a transição energética requer a reativação do setor financeiro e a mobilização de muitos outros atores não estatais.


7. O impacto das taxas de juros globais

"Talvez o maior desafio, e o menos debatido, seja o impacto das taxas de juros globais no financiamento climático."

Durante mais de uma década, juros baixos viabilizaram investimentos em energias renováveis e soluções de baixo carbono. Mas o aumento das taxas após a pandemia de Covid-19, combinado com crises econômicas e guerras, tornou o financiamento de longo prazo muito mais caro. Resolver essa questão exigirá coordenação entre bancos centrais, instituições financeiras multilaterais e o setor privado, além de um esforço diplomático significativo para alinhar políticas econômicas e climáticas. É uma agenda-chave que ultrapassa os limites da UNFCCC e da COP30 e exigirá que a diplomacia brasileira atue articulada em múltiplos espaços diplomáticos, como o G20 e BRICS, e estabeleça alianças com outros países-chave para construir soluções multilaterais inovadoras de financiamento.

"Olhando todos esses desafios, em minha última conversa com o embaixador André Corrêa do Lago, ainda em Baku, na COP29, ele sintetizou a complexidade do momento com uma frase: “Precisamos ser criativos. 

A COP30 será uma oportunidade histórica para transformar ambição em ação. Mas seu sucesso dependerá de liderança, inovação e um compromisso global para enfrentar a crise climática de forma efetiva, inclusiva e criativa.


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